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A ideia relativamente ao projeto com imagens de arquivo familiar que tenho desenvolvido nos últimos 2 anos, adveio da curiosidade de explorar e aprofundar os caminhos enveredados pelos meus familiares desde Angola até à sua chegada e durante a sua permanência em Portugal. Durante vários anos, escutei diversas histórias, fossem de familiares próximos, da parte tanto paterna quanto materna, fossem de outras famílias africanas próximas; histórias, estas, sempre contadas em ambientes informais, sendo que algumas delas já tinham mais de cinquenta anos, nomeadamente as histórias dos meus falecidos avôs, ambos embarcadiços e sócios do Clube Marítimo Africano. 

 

O convívio com o meu avô paterno foi o mais duradouro. As suas experiências eram sempre contadas com algum receio e de uma forma muito simplificada, consequência dos inúmeros encarceramentos a que ele e seus companheiros haviam sido submetidos. Muitas informações ficaram pela metade, até ao momento que a sua memória já não lhe permitiu o exercício de contar. O meu avô materno, optou por ter uma vida mais familiar e de criar laços com os seus compatriotas africanos. Juntando famílias afrodescendentes em convívios.

Desde então, sempre criei um imaginário sobre estas viagens e dificuldades que estes homens, meus avôs e os seus camaradas, passaram, quer em Portugal, quer em Angola.

 

O vídeo apresentado “O que o oceano não silenciou” consiste numa selecção de fotos de família que retratam em parte a jornada de muitos trabalhadores e estudantes africanos e afrodescendentes em Portugal. A minha voz narra depoimentos de ex marítimos, estes depoimentos foram coletados pelo Doutor Filipe Zau actor da obra intitulada “Marítimos Africanos é um Clube com História”, a obra consiste numa pesquisa bibliográfica profunda com uma recolha de dados única, incluindo as três gerações de trabalhadores de origem africana da Marinha Mercante Portuguesa.

 

Optei por seleccionar os depoimentos do meu avô paterno e seus colegas, narram acontecimentos com  a PIDE e as suas relações com o mundo clandestino organizado entre trabalhadores  e estudantes africanos. As fotografias de familia e documentos vao circulando enquanto a minha voz reencarna estes acontecimentos históricos.O meu objetivo com estes pequenos filmes é reativar memórias e relembrar o legado destes grupos e pessoas através da fotografia e filme. 

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